25 de março de 2008

A Leveza das Palavras

Palavras! Palavras! Eis o que é a Palavra, o logos eterno encarnado, materializado, substancializado. Palavras: expressões de uma realidade invisível que estão além do tempo-espaço e ao mesmo tempo tão estritamente ligada a isto. Palavras: a matéria usada pelo Demiurgo, o homem, para criar a partir das formas intemporais, as coisas temporais. Mas, ah que pena! Esta criação não é perfeita.

Diante da realidade, do ser que foi, do ser que é o que é, do ser-em-si, as palavras assumem uma determinada leveza. Uma leveza tal que as mesmas começam a se desprender desta realidade e começam então a flutuar. Flutuar para além da realidade, a ponto de se tornarem elas mesmas outra realidade, uma realidade distinta, uma cópia distorcida de algo ao qual elas estavam originalmente ligadas. Tornam-se também seres-em-si. Toda palavra nasce ligada a uma realidade, porém imediatamente corta-se o cordão umbilical, e estas tornam-se tão independentes, que a própria realidade de onde nasceram fica longe delas.

Pois então, as palavras são leves! Além disto, além de leves, também são ilusórias. Posso dizer o que quiser. Dizem que o papel aceita tudo. Hoje, em dia, seriam os papeis virtuais. E como é fácil multiplicar as palavras. É extremamente fácil julgar, fazer predicação entre idéias. Ah, mas quão vazias são as palavras da realidade.

Confesso, estou cansado de tantas palavras. Estou cansado de minhas próprias palavras. Elas não conseguem dizer nada, são leves, são ilusórias, desprendem-se de mim, tem vida própria, deixam de ser minhas palavras, para serem apenas palavras em si. São totalmente desnecessárias. Ah, parece que vivemos soterrados de lixos e entulhos verborrágicos! Não importa se seja o simples "olá", "boa tarde" ou o mais sofisticado discurso retórico, estamos cercados de palavras vazias, e nós mesmos vivemos a expelir estas palavras, poluindo mais ainda o que nós humanos chamamos O Mundo das Letras.

Constantin Constantius!

Goiânia