31 de dezembro de 2008

VISÃO PARADOXA DE JANO

Este poema é antigo, compus o mesmo no fim de 2006, quando ainda nem era muito interessado por literatura poética... O poema é inspirado num mito romano, Jano, e foi composto na passagem do ano.

No Dicionário de Símbolos de Chevalier e Gheerbrant Jano é "o Deus ambivalente de dois rostos contrapostos, de origem indo-europeia, um dos deuses mais antigos de Roma. De deus dos deuses, criador bonacheirão, transformou-se em deus das transições e das passagens, assinalando a evolução do passado para o futuro, de um estado a outro, de uma visão a outra, de um universo a outro, deus das portas (...) Guardião das portas, que ele abre e fecha, tem por atributo a varinha do porteiro e a chave. O seu duplo rosto significa que ele vigia tanto as entradas como as saídas, que ele tanto olha para o interior como para o exterior, para direita e para a esquerda, para a frente e para trás, para cima e para baixo, a favor e contra."

Dei o nome de Visão Paradoxa de Jano, pois o mesmo com as suas duas cabeças tem duas visões diferentes... Ele vê o passado e o vê o futuro. Estamos entrando em Janeiro (de Jano)... entrando num novo ciclo da existência.

Mas, a riqueza deste símbolo vai muito mais do que a comemoração de uma data de passagem de ano. Jano pode ser indentificado com o nosso Eu, pois o Eu é um ser que tem duas visões em seu desenvolvimento temporal. E este Eu que vê o passado e o futuro fica além do tempo.

Porém, o poema realmente foi composto para a festa de passagem de ano. Eis os versos:

VISÃO PARADOXA DE JANO

De Jano, neste momento, é meu desejo falar
Guardião dos portões celestes
Com duas cabeças, não cessa de observar
A humanidade em círculo caminhar
Caminho feito pelo ser e não-ser de Cronos

Jano, nos portões da eterna presença
Com a primeira cabeça tudo o que vê
Memórias do passado de tudo o que foi
De fracassos e sucessos da humanidade
Da constante luta para se viver!

Jano, nos portões da eterna presença
Com a segunda cabeça tudo o que vê
Esperanças do futuro de tudo que virá
De fracassos e sucessos da humanidade
Da constante luta para se viver!

Jano, nos portões da eterna presença
Com as duas cabeças pode compreender
O ser que continuamente se torna não-ser
O não-ser que continuamente se torna ser
A sucessiva luta da felicidade com a infelicidade.

Por Constantin Constantius

6 de outubro de 2008

Horas de Grande Tédio


Uma das grandes vantagens de ser um nada de ser
determinado, é poder representar o ser de qualquer coisa... Alienus Amens tinha consciência disto e apesar das condições limitantes impostas às representações de ser, Alienus sabia que nenhuma destas essencializações eram necessárias.

Alienus geralmente representava o papel de alguém que se entediava... assumindo como seus os sentimentos de aborrecimentos e fastios, das longas horas que não passavam, inocupadas d' algo que à alma animava. Outras vezes, apenas imaginava o tédio... observando certas pessoas em suas atividades cotidianas... repititivas... enjoativas ... que aos seus olhos objetivos não faziam muito sentido.

Uma vez observou um vendedor de caldo de cana, que ficava o dia inteiro em sua barraca... sentado ali, entre multidão de gente que ali passava, o dia inteiro, ora triturando a cana e servindo a clientela, ora quieto no silêncio e na solidão da falta de freguesia. E isto dia após dia, mês após mês, ano após ano... Não, isto não era a realidade do homem, que não a sabemos, era sim a idealidade de Alienus, que se imaginou no lugar daquele homem, sozinho ali, nas horas de solidão. Imaginando, sentiu um enorme tédio por antecipação. E esta angústia brotada no solo da idealidade, levou Alienus a escrever mais um poema... um soneto ao Tédio:

Horas de Grande Tédio

Vagarosamente corre o ponteiro a cada hora
Eternamente se temporalizando neste agora
Verbos enfadonhos d'um corpo, d'uma mente
Aborrecimento... entediante... Impertinente

Eis o agora de um momento muito entediante
Importuna incomodamente até o comediante
Um agora, teimoso em não se tornar um antes
Preenchido de cansativos verbos enfastiantes

Fatigados, demoradamente e insistentemente
Advérbios de modos que interminantemente
Exprimem modos de ser mui enfadonhamente

Constantemente se diz: eternamente nada dura
Porém, existe o existente que no tempo perdura
Como o tédio, que somente distração traz a cura.

Alienus então mais uma vez estranhou o resultado... sentiu-se cansado e verdadeiramente com tédio... Ele não entendia como que um sentimento estimulado poderia produzir os mesmos efeitos que os sentimentos espontâneos. Eis aí, Alienus, não sendo em essência um ser entediado, estava no entanto, vivendo um momento assim, pois carregava de modo indeterminado a semente do tédio. Mas, como tudo na existência, este estado de ânimo não duraria para sempre, pois ele de fato não era em essência o ser entediado. Pouco tempo, de um longo tempo, depois, voltou à se distrair com a vida.

Johannes Alienus Amens

2 de outubro de 2008

Flutuação e Precipitação

Alienus Amens, sentado debaixo de uma árvore, numa terra seca e árida do sertão... Sol forte, sombra fresca, calor infernal... Conversando com um outro, o outro de si mesmo, o outro a partir de si mesmo, o outro estranho a si mesmo... Lutando contra o tédio e a inércia da mente e coração, examinando silogismos ascendentes e descendentes da razão, recebeu uma intuição, sim uma inspiração, que lhe arrebatou para um estado oposto, a do coração. Então ele compôs algo estranho, algo parecido a uma canção... não, não era uma canção...eram versos carregados de uma fria e melancólica emoção:

Flutuação e Precipitação

Lentamente flutua a leve pluma
Numa terra distante e gelada
Oculta dos olhos por densa bruma
Carrega crescente pesada geada

Sem um a priori rumo a seguir
Vagueia louca a qualquer direção
Com a necessidade de desmentir
Cada essência da movimentação

Seu movimento revela uma razão
Imprevisível, Indefinível, Inconcebível
Como são os movimentos do coração

Rapidamente precipita-se a pluma
Insustentavelmente, Tragicamente
Oculta dos olhos por densa bruma

Após terminar sua composição, ela não era mais sua... não tinha mais sentido... Alienus Amens loucamente aliena-se de si, olha para si, que não é mais o seu si, mas um estranho a si e então entra em êxtase absurdo e pronuncia com um sisifismo recorrente: "Aller Anfang ist schwer"!

Johannes Alienus Amens

10 de setembro de 2008

O Velho e a Criança - O Alfa e o Ômega

Hoje, quando voltava do almoço, vi uma cena que me impressionou grandemente. Eis que vi um velho e uma criança andando numa rua deserta, sob sol muito forte, protegidos por uma imensa sombrinha. Um velho de cabelos alvos, totalmente alvos. Uma criança pequena com sua pasta de estudos.

O contraste manifestou-se imediatamente à minha consciência. Vi ali o Alfa e o Ômega da Existência Humana. Pólos extremos da vida, assim tão próximos, porém tão distantes. Assim tão semelhantes, mas tão diferentes. Os dois lados de uma mesma moeda, chamada vida!

A percepção desta cena, encheu-me de melancolia, pois olhando de fora, como observador, como aquele que objetiva um objeto, não pude vivenciar toda interioridade daquela relação. Uma relação tão frágil, sob a iminência constante da destruição. O que será que pensava o Velho... O que será que pensava a Criança ... Talvez nada demais, nada demais ... Presos em suas interioridades, nem mesmo imaginam que estou falando isto aqui agora ... Nunca saberão ... Eis aqui a noção da pura Indiferença Existencial...

Enfim, o Velho e a Criança ... o Alfa e o Ômega.

Alienus Amens

15 de agosto de 2008

Claustrofobia da Subjetividade

Sou um claustrofóbico. Sim, tenho pavor de ficar preso em lugares fechados. Lembro quando criança, numa brincadeira junto com meus primos, quando minha tia trancou-me dentro de uma geladeira velha. Era uma brincadeira, mas para mim foi apavorante. A sensação de pânico invade o ser. Toda racionalidade dissipa-se do pensamento. A imaginação prevalece. A angústia faz-me sofrer antecipadamente pela falta de ar. O ser quer literalmente explodir. Experimentar a claustrofobia é como estar no Tártaro, fazendo companhia a Tântalo, Ixíon e Sísifo. Pois é um sofrer sem morrer.

Mas, posso dizer que experimento outro tipo de claustrofobia. A claustrofobia da subjetividade. Só a sinto quando apercebo-me de que vivo numa prisão, de todas as prisões a mais hermética: a prisão da subjetividade. A subjetividade é uma prisão hermeticamente hermética. Não há qualquer possibilidade de passagem de ar. Não há portas. Não há janelas. Não há orifícios. Suas paredes são extremamente e puramente e perfeitamente sólidas. Imaginar isto causa claustrofobia existencial.

Todo homem nasce dentro dela e dela jamais pode sair. Ela é transparente, feita de vidros. Graças a isto pode-se ter uma visão objetiva. Isto é paradoxal. Mas, a transparência da subjetividade permite ver o que há do lado de fora. Não do lado de fora de si mesmo, mas o exterior do outro que aparece dentro da própria subjetividade: o fora dentro de si. O subjetivo compreende e abarca o objetivo. O homem vê aquilo que está além da prisão, porém raras vezes apercebe-se que está preso dentro de si mesmo.

A objetividade é uma ilusão. Tudo quanto está ao meu redor é visto pelas vidraças da subjetividade. Experimento o mundo e as pessoas, ora pela percepção, ora pela imaginação e ora pela concepção. Mas, sempre pela subjetividade, tudo passa pelo crivo do Cogito, do Eu Penso. As paredes de vidro indicam apenas a transcendência do mundo.

Assisti um filme de Todd Field, Little Children, onde ele consegue captar bem o sentido destas prisões. E nada melhor para perceber o quanto o homem é preso em sua própria subjetividade do que observá-lo de "fora", com uma visão "objetiva", colocando-se como um personagem onipresente observando o passado, presente e futuro do outro. E vendo o quanto a imaginação e a fantasia do homem determina-lhe o seu comportamento. Na subjetividade o homem imagina uma realidade vendo então caracteres ilusórios naquilo e naqueles com quem se relaciona. É, é mais fácil ver a ilusão alheia do que a própria. Mas, não seria a idéia de observador uma mera ilusão?

Então, quando apercebo-me de minha prisão subjetiva, já não sei mais o que é real e o que é imaginação. E deter a atenção muito tempo nisto, causa-me claustrofobia existencial. Estou preso em minha própria subjetividade. Isto sufoca-me. Como distinguir a realidade da fantasia ... Platão usou a alegoria da caverna, dela se pode sair. Mas da prisão hermética, sem portas e janelas, quem poderá sair?

Johannes Climacus!

1 de agosto de 2008

Filósofo: Um Midas com o Toque da Razão

Conta-se uma lenda, entre os gregos antigos, de um rei, chamado Midas, que agradou por seus gestos de caridade o deus Baco. Midas havia acolhido e cuidado de Sileno, que segundo os poetas, foi mestre e pai de criação desta divindade. Baco, por meio de Sileno, concedeu-lhe realizar um desejo de sua escolha, qualquer um que fosse. Midas não hesitou e logo pediu que lhe fosse concedido o poder de transformar em ouro tudo o que ele tocasse com a mão. Mesmo reconhecendo a tolice do pedido, Sileno atendeu-lhe.

Midas tocou um ramo de árvore e este transformou-se em ouro. Ficou feliz e entusiasmado, voltando-se para o palácio, tocou as portas e estas também se tornaram em ouro. E assim, ele foi transformando tudo o que tocava. E gostou muito disto. Porém, sentiu fome e ao pegar um pedaço de carne, o mesmo também, tornou-se ouro, o mesmo aconteceu com o vinho e a taça que ele segurava. Infeliz, teve que voltar atrás e pedir para que o poder lhe fosse tirado, pois caso contrário ele iria morrer de fome.

Midas, Midas! De uma alegria extrema para uma situação infeliz! Eis o que acontece também com o Filósofo, que eu diria ser um tipo de Rei Midas, que em vez de transformar em ouro as coisas que toca, transforma em essências tudo aquilo que pensa. Eis o toque da razão, o toque que transforma a existência em essência, que transforma o subjetivo em objetivo, o todo em dualidade de sujeito e objeto.

Há coisas que pensadas em suas essências trazem grandes benefícios, como acontece por exemplo no pensar abstrato da matemática. Porém, quando se procura transformar em essências aquilo que só faz sentido na existência, o filósofo morre de inanição de experiência. Na vida do homem as coisas da existência vem antes das essências e por isto não se pode querer racionalizá-las. O prazer de comer um pedaço de carne, o prazer de experimentar uma sensação no corpo, o prazer do beijo, o prazer de ouvir uma música, e tantas outras coisas, só podem ser vividas e compreendidas na existência. Se o Filósofo as toca com a razão, elas se transformam em algo diferente e perdem seus efeitos, assim como Midas fazia ao tocar um alimento, que transformado em ouro, não poderia mais, satisfazê-lo.

Ah, a imagem do Filósofo é a imagem de um homem feliz que conseguiu o poder de transformar em essência tudo o que tocava com a razão. Porém, descobriu que transformar todos os mitos e as experiências da vida em explicações racionais não lhe pode fazer feliz. Eis a condição da existência humana, não há como sobreviver sendo apenas filósofo. E como canta Zé Ramalho:


"Foi um tempo que o tempo não esquece
Que os trovões eram roucos de se ouvir
Todo um céu começou a se abrir
Numa fenda de fogo que aparece
O poeta inicia sua prece
Ponteando em cordas e lamentos
Escrevendo seus novos mandamentos
Na fronteira de um mundo alucinado
Cavalgando em martelo agalopado
E viajando com loucos pensamentos

...

Pode ser que ninguém me compreenda
Quando digo que sou visionário
Pode a Bíblia ser um dicionário
Pode tudo ser uma refazenda
Mas a mente talvez não me atenda
Se eu quiser novamente retornar
Para um mundo de leis me obrigar
A lutar pelo erro do engano
Eu prefiro um galope soberano
A loucura do mundo me entregar"

Johannes Climacus

18 de julho de 2008

Parque de Diversões e o Absurdo da Existência

Faz dias que vejo sempre, no trajeto para meu trabalho, um parque de diversões. E de tanto ver, este se impôs à minha consciência de modo que passei a refletir sobre.

Parque de Diversões! Observei pessoas sentadas em aparelhos giratórios, balanços enormes, rodas gigantes, etc. Por um momento senti o absurdo da existência humana e parece que ali, no parque, havia uma lente que fazia o absurdo manifestar-se de modo muito maior aos olhos.

Aquelas pessoas sentadas em aparelhos, girando e girando, andando em círculos, várias voltas, voltas absurdas, voltas sem sentido, movimentando-se em círculos totalmente sem razão de ser. E pior ainda, voltas gratuitamente inúteis, que não acrescentam nada a mais na existência, que em si, é também desprovida de um rumo e sentido necessário.

Tudo isto vi do ponto de vista da análise de um observador, lógico-racional objetivador e essencializador. Porém, depois de observar vários dias este absurdo, hoje foi diferente, deixei minha imaginação fluir. Imaginei cada volta, imaginei-me ali, de cabeça para baixo, imaginei-me ali dentro, naquelas máquinas que caminham em círculos, naquela rotina eterna sem sentido. E pude perceber que aquilo poderia trazer um prazer, um extâse, um extravasar de emoção...

É absurdo para quem vê de fora, mas o que vive e experimenta parece ser de tal modo anestesiado pela distração a ponto de esquecer o absurdo que é ficar girando sem rumo, girando no mesmo lugar, girando inutilmente a fim de sentir emoções, a fim de tornar a existência absurda em algo com um sentido de prazer. Sim, é ilusão, pensarmos que o sentido que damos para nossa existência é um real sentido. Pois realmente, não há sentido algum. Dar sentido para a existência já significa que não existe sentido algum.

Ahhh! Acho que domingo vou ao parque de diversões .... Only Time!

Johannes Climacus!

13 de junho de 2008

A Beleza Particular e a Beleza Geral

Estava analisando meus sentimentos estéticos e percebi algo interessante, um pouco que constante em meus juízos estéticos: a distinção entre a beleza particular, individual e a beleza geral, coletiva.

Digamos, vou numa loja de sapatos, vejo inúmeros sapatos juntos, aquela visão é esplendorosa, enche de gozo os nossos sentidos. É preciso escolher um. É preciso saber qual daqueles será o sapato que mais agradou. Depois de muita dúvida, então escolhe-se um, que se julga belo. Quando aquele um é tirado do meio dos outros sapatos, ele de alguma forma perde a beleza e o encanto.

Outro exemplo, digamos que exista um grupo com sete mulheres, três super formosas, lindas, jovens, sorridentes. Outras duas nem tão formosas e não tão inestéticas. E por fim, duas que estão desprovidas de uma beleza natural, conforme os padrões sociais. Não importa, todas elas tornam-se belas, o conjunto de todas elas causam um impacto muito forte no juízo estético. Até mesmos as não tão belas, tornam-se belas. Porém, mesmo a mais bela das sete, vista isoladamente perde todo esplendor da beleza.

E assim, parece ser com tudo. Tudo o que isolamos, mesmo que seja muito belo, parece perder o efeito.

Bom, é assim, que tem funcionado meus juízos estéticos. De modo que parece ser impossível amar o belo particularmente de modo absoluto, ou seja, como amar somente uma coisa? Se cada ente particular traz em si uma beleza singular? Beleza esta que é realçada na generalidade? Ah, mais também como alguém finito pode amar tudo?

Penso ser este um dos maiores paradoxos estéticos do amor.

Oráculo

Em um beco escuro da Sé...a cara, certamente tinha mais maquiagem do que misticismo...começou me olhando com aquele olhar vulgar, de quem finge observar profundamente...deu mais um trago no cigarro:

- Então, vc é a Nil?

- É...pq? Sua bola de cristal tá quebrada hj?

(...pôs o cigarro de lado, sorriu)

- ..Não adivinho nomes, adivinho o futuro..

- Hum...e oq vê pra mim?

- Um portal mágico...

- Vc tá me achando com cara de idiota? (embora, eu mesma já estivesse me achando uma idiota por estar ali..)

- .Não não.. sua hostilidade transpira pelos seus póros...calma garota...olha, é engraçado alguém acreditar em cartomante, e não acreditar em portais mágicos...

- Bom...deve ser pq já vi trocentas cartomantes..mas, nunca vi um portal mágico...tudo bem, reconheço que acho besta acreditar que vc possa me dizer algo de útil....mas, sei lá, somos cheios de esperanças estúpidas o tempo todo...explica aí a história da porra do portal...

- To falando do portal mágico da insanidade...que sempre esteve aberto pra você...tô vendo aqui que ele vai se fechar...e logo..

- .... O portal vai se fechar...sim, faz muito sentido..(ia me levantando da cadeira, puta por perder dez contos com aquilo)

- Sente-se Nil!...(soou tão imperativo, que quase automaticamente, me sentei...mas, a verdadeira razão de haver me sentado, estava oculta diante disso..eu queria, precisava ficar...e ouvir até o final)...

- Sabemos bem do que estou falando...chegou o momento de decidir, se vc vai adentrar ou não...

De repente, em meio à fumaça do cigarro, abriu-se um portal enorme em minha frente...já não havia mais cartomante, nem sé, baralho ou bola de cristal...tremi...por um instante, foi como se incoscientemente, meu corpo estivesse sendo puxado pela fumaça......puxado...e cada vez mais intensamente...

...............

Acordei naquele corpo estranho....traguei amargamente o cigarro manchado com meu batom vermelho... e pedi que entrasse a próxima cliente....

Nil Resende.

A impossibilidade da repetição na realidade

O texto abaixo é um depoimento de um amigo meu, que admiro muito, João Batista, sobre um texto que eu tinha escrito, que nem mais sei se existe. Pesquisando no Google sobre Kierkegaard, acabei encontrando este depoimento, feito algum tempo atrás, quando utilizava o pseudônimo Johannes de Silentio:


"Caríssimo Johannes de Silentio (João do Silêncio), você, nesta sua belíssima e competentíssima repetição imanente, e recorrente, inclusive na pseudonímia, nos oferece um pequeno texto de Kierkegaard, onde o filósofo dinamarquês (e quero aqui deixar claro que dele conheço apenas o superficial, portanto, desde logo, sugiro que releve a minha incompetência) desenvolve um discurso já traçado desde os seus primórdios, desde o relacionamento com o seu pai, que fora talvez(?) o seu maior ídolo, e onde acredito esteja a fonte antropológica do pensamento kierkegaardiano, mas que ao mesmo tempo construíra no jovem Sören Aabye Kirkegaard marca indelével: a “melancolia”, o “fracasso” e, por fim o seu “calvário”. Em razão disso e em função do meu pouco conhecimento a respeito deste filósofo, penso (e isto em mim é uma convicção) ser imprescindível entendê-lo “somente” a partir dessa tríade dialógica da repetição da realidade de si. Sendo, pois, este, um conceito “exageradamente pessoal”, não merecerá, portanto, de você, assim espero, que é um estudioso de Kirkegaard, uma crítica severa sem antes entender essa minha limitação.

Curiosamente a obra de Kirkegaard surge sob o manto de indagações pessoais que buscavam um tipo de significado de “idéia de apropriação”. Veja, por exemplo, sua afirmação: “Trata-se de encontrar uma verdade que seja verdade para mim, de encontrar a idéia pela qual quero viver e morrer” (Papier, I, A, p. 75). Suas principais indagações eram: “Como assumir um cristianismo herdado do pai “melancólico”? Como superar os resíduos existenciais de um noivado fracassado? Como compreender o sofrimento como um bem para o indivíduo?”. Finalmente ele sintetiza todas essas hipóteses numa única: “Como compreender-se na existência?”.

Acredito, assim, que toda a estrutura do pensamento filosófico do dinamarquês se finda nesta síntese. Mas é interessante perceber que é a partir desta síntese que Kirkegaard desenvolve, sobretudo com “Climacus”, em “O Conceito de Ironia Constantemente referido a Sócrates”, todo um conjunto ideográfico da ironia que o perseguirá enunciando [repetições imanentes] em toda sua obra, isto é, construindo e desconstruíndo repetições dentro da dualidade dialógica do ser possível e impossível dentro de uma repetição da realidade de si e do ser-aí. Não seria isso, pois, uma terrível ironia de possbilidades e impossibilidades de realidades latentes e dadas? Não sei bem explicar isso, confesso-o humildemente, mas penso que sim, a partir do impacto que me causa todo o pensamento de Kirkegaard.

Agrada-me contudo tentar entendê-lo, tomando como referência o texto por você mencionado, a partir da consciência ou conscientização da existência do real ou da realidade, onde se revelaria a dupla ironia do interior “X” exterior ou da subjetividade “X” objetividade. A isso, Kierkegaard, destacou como sendo um verdadeiro “salto” para o confronto ou a confrontação, num contraste evidente ao pensamento hegeliano de “mediação”. Ou seja: a realidade consciente ou a consciência da realidade só ocorre no instante do confronto, que, para o filósofo, era a total libertação, a “escada para o paraíso”, e tudo isso dentro de um método onde o fora e o dentro se interrelacionam num processo de constante mutualidade imanente.

Finalizando: quero crer que Kierkegaard, e assim o entendo, sugere que todo ato de consciência é um ato de revolução ou um estádio revolucionário, de confronto evidente, sem o qual não há espaço para o “salto”, isto é para a libertação. (Neste ponto vejo um determinado tipo de proximidade com o pensamento de Marx, o que não vem ao caso neste momento). Isto significaria dizer que ao tomar consciência de uma realidade externa crio uma nova realidade interna que vai naturalmente levar ao confronto e, de alguma maneira, dar um “salto” em direção à liberdade, que pode ocorrer no exterior ou no interior, no subjetivo ou na objetividade. A essa teorematização representacional tento definir como sendo uma metalinguagem da existência.

E para definitivamente terminar esta minha intervenção deixo aqui uma pergunta múltipla multifacetada no contexto irônico do próprio Kierkegaard:

- Não seria você, juntamente com sua pseudonímia, a consciente repetição da realidade do pensamento de Kierkegaard? Não estariam, aí, instaladas, tanto a possibilidade quanto a impossibilidade dessa existência recorrente ou repetitiva do pensamento kierkegaardiano? Não seria isso uma tipologia de conscientização, e de confronto, para dar um salto para uma tipologia de libertação, para tentar assenhorear-se de uma tipologia de propriedade de conhecimentos e de saberes?"

Publicado no Blog de João Batista

26 de maio de 2008

Estudos Filosóficos:

Coletânea de artigos filosóficos de autoria de vários filósofos do Orkut. Artigos sem necessidade de coerência entre si – multiplicidade de interpretações acerca da Filosofia.

Organizador: Alexandre Anello

Capa: Waldísio Araújo

Prefácio: Ernesto Von Rückert.

Temas abordados/(autores):
1. Mito e Filosofia – a evolução do pensamento (Alexandre Anello)
2. Alienações e sua gênese em Karl Marx (Marco Aurélio Machado)
3. A sentinela da contradição – Marx e a crítica social contemporânea (Cláudio Duarte)
4. Existencialismo (Constantin Constantius)
5. Jean-Paul Sartre (Sávio Notarangeli)
6. Escola de Frankfurt – recortes históricos e filosóficos (Felipe Figueira)
7. A esperança nas ruínas – dialética de esperança e pessimismo na Escola de Frankfurt (Cláudio Duarte)
8. Ludwig Wittgenstein (Yedra Ardey)
9. Angústia e tédio – Doença ou Liberdade – Uma abordagem das tonalidades afetivas no pensamento de Heidegger (Fernando Lopes)
10. Friedrich Nietzsche – vida e obra (Erick Gaspar)
11. Michel Foucault (Carolina Schouer)
12. Nascimento e morte de Deus (Waldísio Araújo)
13. Aforismos (Alexandre Anello)

Participaram também as poetisas e os poetas:
1. Ernesto Von Rückert;
2. Angélica;
3. Mariah Lacerda;
4. João Lins;
5. Athina Sr. B.;
6. Laura Antunes;
7. Bruno Coelho;
8. Luiz Carlos (Luizsefer);
9. Carla Laforgia;
10. Manoel Nogueira Silva;
11. Alexandre Anello.

Para baixar o livro, clique aqui:

Para baixar a capa do livro 3D, em formato papel de parede, clique aqui:

Favor divulgar o link para download, para centralizar-se a contagem de downloads.

Mais uma vez, obrigado a todos!

Alexandre Anello

25 de março de 2008

A Leveza das Palavras

Palavras! Palavras! Eis o que é a Palavra, o logos eterno encarnado, materializado, substancializado. Palavras: expressões de uma realidade invisível que estão além do tempo-espaço e ao mesmo tempo tão estritamente ligada a isto. Palavras: a matéria usada pelo Demiurgo, o homem, para criar a partir das formas intemporais, as coisas temporais. Mas, ah que pena! Esta criação não é perfeita.

Diante da realidade, do ser que foi, do ser que é o que é, do ser-em-si, as palavras assumem uma determinada leveza. Uma leveza tal que as mesmas começam a se desprender desta realidade e começam então a flutuar. Flutuar para além da realidade, a ponto de se tornarem elas mesmas outra realidade, uma realidade distinta, uma cópia distorcida de algo ao qual elas estavam originalmente ligadas. Tornam-se também seres-em-si. Toda palavra nasce ligada a uma realidade, porém imediatamente corta-se o cordão umbilical, e estas tornam-se tão independentes, que a própria realidade de onde nasceram fica longe delas.

Pois então, as palavras são leves! Além disto, além de leves, também são ilusórias. Posso dizer o que quiser. Dizem que o papel aceita tudo. Hoje, em dia, seriam os papeis virtuais. E como é fácil multiplicar as palavras. É extremamente fácil julgar, fazer predicação entre idéias. Ah, mas quão vazias são as palavras da realidade.

Confesso, estou cansado de tantas palavras. Estou cansado de minhas próprias palavras. Elas não conseguem dizer nada, são leves, são ilusórias, desprendem-se de mim, tem vida própria, deixam de ser minhas palavras, para serem apenas palavras em si. São totalmente desnecessárias. Ah, parece que vivemos soterrados de lixos e entulhos verborrágicos! Não importa se seja o simples "olá", "boa tarde" ou o mais sofisticado discurso retórico, estamos cercados de palavras vazias, e nós mesmos vivemos a expelir estas palavras, poluindo mais ainda o que nós humanos chamamos O Mundo das Letras.

Constantin Constantius!

Goiânia