28 de agosto de 2007

Belas Poesias e Pinturas de Pietkra

Estou publicando neste tópico algumas poesias e algumas telas de uma amiga que conheci no Orkut, Pietkra Tebesco, apreciem:

********************
Se negra não fosse a noite,
Talvez eu percebesse
Que o sorriso era riso,
Deboche!,
Por ver vitoriosas
Tuas falsas palavras.

Se negra ela não fosse,
Por detrás do brilho dos seus olhos
Eu veria intenso prazer,
Por doentia intenção,
Pôr-me em cárcere profundo.


Pietkra.

********************
Sei das dores desta cidade,
Das minhas,
O que tentei por ambas,
Das que padece o homem que amo...

Sei de casos,
Que não foram por acaso,
Há culpados!
As consequências,
Me pedem intervir,
E você, o homem que amo,
Alguns fatos,
Te entristece o olhar.

Sei de uma dor neste planeta,
Que me pede por ser humana,
Intensa como a saudade,
De peito que me aconchega,
O do homem que amo.

Sei de bandeiras
Que tremulam frêmitos de revoltas
Que sangram,
O descaso da ausência de atitudes,
Que fazem a miséria
E humilhações de povos
Que fizeram filhos,
E resigno-me ante escravidão
Por junto,
Que o homem que amo,
Fez grilhões.
E,por eles,
Ele me tranca tão fundo,
Que nem mesmo nos seus olhos
Eu sou presença.


Pietkra.

********************
Gostaria ter um cantinho,
Onde houvesse uma orquídea branca
Num tronco de árvore,
Ao sol,
Um botão amarelo.

Que meus pés tocassem a terra,
Uma porteira a bater,
Um som de cascos no chão.

Que as pessoas que ali fossem,
Chegassem sem preconceitos
E me mostrasse, nos olhos,
Uma alma limpa,
E que minhas lágrimas
fossem apenas por amor
Ou por emoção.

Sentada à soleira,
Ouvindo o borbulhar
Do caldeirão de feijão
Se misturar ao crepitar
Da madeira no fogo.

O olhar ao longe,
E como que num quebra cabeça,
Tirar-te, aos poucos,
Do por do sol.

E,
Presença formada,
Você se faria em andar,
Em boca,
Em olhos,
Em cheiro,em amor, em mãos.

Mãos que trouxessem
A ternura de toques,
O afago da presença.


Pietkra.

********************
Tenho a fibra
E a raça de mulheres fortes,
A vida mo tem mostrado.
Só não sei
Se poderei sustentar seu olhar,
Mostrar no meu
A dor de nó passado,
Que à ti me ata.

Me cobro
E me preparo por forças
Pra assisti-lo feliz,
Que por feliz,
Sei,
Não contas comigo.

Com você,
À cada dia me faço mais forte
Pra não te mostrar tristeza
Pelo pacto de amor que fiz com você,
E você,
Fez com outra.


Pietkra.

********************
Você me faz mais que sensual,
Mais que felina.
Me faz em cio,
Com consciência mental disforme,
Corpo em hipnose,
Arrepios, profecia,
Transe-ação.

O desejo paira,
E busco no seu corpo
As sagradas atitudes
De ser possuída.

Te engulo lobo,
Fogo, energia,
Forte.

Impulso ensandecido,
Movimentos hábeis de dono
E leveza,
Que por final
Me faz dócil,
Vê-lo ir-se,
Sair alteza,
E confiar pra que,
Como hoje,
Você se repita.


Pietkra.

15 de agosto de 2007

Eu, Pescador de Ilusões

Eu, Pescador de Ilusões

Arte e Literatura de Valor Intelectual e Filosófico

Johannes de Silentio (*)


Kierkegaard certa vez escreveu que "o poeta é o gênio da recordação". E ele tinha razão. Isto faz do poeta um elemento fundamental num grupo social, que tem uma valiosa missão: registrar para as gerações presentes e futuras, através de sua arte: os sentimentos, as idéias e os fatos mais relevantes de seu contexto histórico específico. Não é uma tarefa fácil, exige não somente a técnica, mas acima de tudo, uma habilidade natural, uma vocação. O poeta louva e elogia o belo, porém da mesma forma censura e critica o inestético.


E nesta atividade do poeta é preciso liberdade de expressão, pois caso contrário sua tarefa se torna irrelevante. Sempre digo: o poeta é censor do clima intelectual e sentimental de seu tempo. E aqui temos um poeta brasileiro contemporâneo: João Batista do Lago com o seu primeiro e esperamos não último livro de poesias – EU, PESCADOR DE ILUSÕES.


Com certeza as Musas, filhas do senhor do Olimpo, inspiradoras das artes, auxiliaram este autor a transformar a matéria bruta das intuições sensíveis e intelectuais em formas preciosas de expressão poética. É uma obra que consiste numa coletânea de poesias, que nasceram numa fértil imaginação e que expressam uma grande variedade de sentimentos e reflexões. Exibem uma riqueza de palavras e idéias de ótima qualidade. Encantam com a beleza da forma e do estilo literário. Impressionam com a profundidade semântica dos conceitos trabalhados. Cativam com a relevância histórica política e social.


Esta obra é fruto de uma mente genial e brilhante e que demonstra ser amante do saber. É uma obra plena de ideais nobres e humanitários, que fecundam não na mente de um jovem inexperiente e ingênuo, mas ao contrário, na mente de um “ancião”, que fluiu existencialmente na história por vários momentos antagônicos.


Nesta obra é importante destacar o empenho intelectual de compreender o mundo percebido não como uma representação idealista, estática e alienada do tempo-espaço natural, mas pelo contrário, seguindo o exemplo pioneiro de Heráclito, uma tentativa de compreender o mundo numa representação realista e dinâmica.


Percebe-se um elemento dialético, às vezes paradoxal, no movimento das palavras, neste fluir poético, que expressa um pensamento vivo e interessante. Poesias que procuram expressar adequadamente a realidade histórica e natural em constante movimento. São pensamentos que não pretendem ser a expressão de uma realidade eterna e distante, mas sim, o retrato de uma realidade viva e experimentada, em todas as suas contradições.


O poeta João Batista do Lago, cidadão consciente e culto, nesta sua obra, expressa e reflete sobre variados temas. Com isto demonstra aptidão e conhecimento em várias áreas do conhecer humano: Filosofia, Arte, Antropologia, Sociologia, Mitologia, Literatura, Política, História, Ecologia e outras mais.


Evidencia portanto não só a qualidade intelectual da obra, mas também a própria erudição do autor. Deste modo a obra não se limita somente a satisfazer o gosto estético do leitor, mas procura satisfazer também o gosto intelectual e às vezes apela até mesmo à volição.


A obra não consiste somente numa coletânea de poesias com o fim de satisfazer o desejo pelo belo. Objetiva também a reflexão sobre a própria atividade reflexiva do homem, revelando seus potenciais e suas limitações, numa perspectiva dialética. Expressa o sentimento de finitude do homem, um ser que questiona o infinito e que busca respostas para questões transcendentes à própria existência natural.


João Batista do Lago é um poeta, e nesta obra não só louva e celebra o belo, mas censura os abusos políticos, nacionais e internacionais, testemunhados pela nossa história contemporânea. Poesias que denunciam atos desumanos dos que estão no poder. É um poeta que incita a indignação. Censura por exemplo: a corrupção política, a exploração do pobre pelo mais rico, os agentes da injustiça social, a cumplicidade das instituições que preservam e reproduzem ideologias, a atividade tecnológica do homem que destrói a natureza. Poesias que até mesmo profetizam libertação social e fazem apelo à ação.


Concluindo, "EU, PESCADOR DE ILUSÕES" é uma bela obra de arte, mas também, uma peça literária de valor intelectual e filosófico muito grande. Uma obra que exige, portanto, um tempo razoável de reflexão, pois toca em temas complexos e profundos da existência humana. É uma obra relevante para o homem contemporâneo, pois fala do que aconteceu e acontece aqui e agora. Será também uma obra de relevância histórica, retratando o sentimento e pensamento de um cidadão culto, que no seu tempo refletiu criticamente a história política e social.


(*) Johannes de Silentio (ou Paulo Sérgio Alves) - Formação acadêmica em Teologia e Processamento de Dados. Atua como Profissional Liberal.
28 de Novembro de 2006.


Baixe esta obra neste link: http://www.lulu.com/content/633006






14 de junho de 2007

A crença na imortalidade como motivação ética em Dostoiévski*

*Este artigo foi escrito em resposta a um questionamento de uma amiga, Samila Moreira, no Orkut. Nosso diálogo era sobre o tema da existência de normas morais absolutas e universais. A mesma escreveu, também, um artigo sobre o assunto, no seu blog pessoal.


Ninguém poderá negar que na vida social existe injustiça. Existe imoralidade. Existe maldade. E esta maldade que reina no lugar da justiça nem sempre é punida, muitos dos crimes são feitos sem que ninguém fique sabendo. Voltaire diz que: "Desde que os que os homens começaram a viver em sociedade devem ter percebido que não poucos criminosos escapavam à severidade das leis. Puniam-se os crimes públicos: restava estabelecer um freio para os crimes secretos. Só a religião poderia ser esse freio. Persas, caldeus, egípcios, gregos, imaginaram castigos depois da morte." (VOLTAIRE, p. 304).


As normas jurídicas distinguem-se das outras normas sociais por terem em si o poder de coercibilidade. E o que seria destas normas sem este poder? Ora, seriam irrelevantes. Mas, e o que dizer das normas morais? Tem elas algum valor sem a coercibilidade? Ora, julgo que não. Muitas das normas sociais não estão sob o poder da coerção do Estado. E o objetivo deste artigo, portanto, é argumentar a relação entre a imortalidade e a moralidade, procurando mostrar que Dostoiévski estava certo ao afirmar que sem "imortalidade não existe virtude", ou seja, que a obediência a uma norma moral não é absolutamente obrigatória se não se pode apelar para uma punição ou recompensa absoluta.


Dostoiévski, em sua obra Irmãos Karamazov, ficou famoso por expressar esta frase "não pode haver virtude sem imortalidade" (DOSTOIÉVSKI, p. 76). Na voz do personagem Piotr Alieksándrovitch citando uma conversa de um outro personagem, Ivã Fiódorovitch, um ateu teórico, lemos o seguinte: "ele (Ivã) declarou solenemente, no meio de uma discussão, que sobre a terra nada existe que possa obrigar um homem a amar seus semelhantes, que isto não é absolutamente uma lei natural; e, se tal amor existiu até agora, foi apenas em razão da crença dos homens na imortalidade." (DOSTOIÉVSKI, p. 75).


Outro personagem, Rakítin, questiona: "Ouvi há pouco a sua estúpida teoria: 'Não existe imortalidade da alma; por conseguinte, não há virtude e tudo é permitido'". E logo depois diz: "Toda esta teoria é uma baixeza. A humanidade achará força em si mesma, viverá para a virtude mesmo que não creia na imortalidade da alma! Achará essa força no amor à liberdade, à igualdade, à fraternidade." (DOSTOIÉVSKI, p. 88).


Bom, o que Rakítin disse tem certo sentido, pois a moral pode ser construída sem a idéia de imortalidade, porém seria uma moral ineficiente em todos os casos. Mas, quem leu todo o livro perceberá a moral do romance dos Irmãos Karamazov em seu desfecho final, que ilustra que a justiça humana é falha, que inocentes são punidos e criminosos são tidos como pessoas de bem. E que muitas injustiças nunca são punidas. E nestes casos, se não há imortalidade da alma o injustiçado não será vingado e o impune não será castigado.


Este pensamento não é inédito em Dostoiévski. Citamos no início Voltaire, e o que ele diz é verossímil. Basta fazer um estudo sobre os costumes, religião e moral dos povos antigos que se constatará que a idéia de imortalidade está ligada à moralidade.


Não há como negar que na vida muitos cometem maldades sem que estas maldades sejam punidas. Poderíamos ilustrar isto com vários exemplos. Muitos dos grandes empresários de nosso tempo foram pessoas que cometeram muitas injustiças para se tornarem o que são. O político pobre e honesto não consegue competir numa eleição com o corrupto e rico. E aquele que assume para si a obra de outrem e leva toda vantagem nisto. Muitos dos que são louvados na sociedade são pessoas más e injustas, isto não há como negar. E o aluno que copia o trabalho de outro e se sai bem? Sem falar nos enganos, tramas mentirosas e subornos?


Encontra-se esta relação entre justiça e imortalidade nos mitos gregos. Na mitologia grega atribui-se às Fúrias o poder de executar as sentenças dos Juízes. Ministros da vingança dos deuses existem desde a origem do mundo. São elas a Tisífone, Megera e Aleto. Quando alguém ficava impune de seus erros diziam que elas os perseguiam. É uma alusão mítica ao poder da consciência moral humana. Sem falar da famosa deusa da vingança Nêmesis.


A escatologia (estudo das últimas coisas) Cristã também evidencia a relação entre justiça divina e moralidade. A idéia de Reinos dos Céus, Inferno e Juízo Final são provas disto. E a imortalidade cristã está vinculada à crença na ressurreição, que quando foi negada por alguns cristãos na igreja de Corinto levou o apóstolo São Paulo a dizer: "Se a nossa esperança em Cristo se limita somente a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens" (1Co 15: 19) e "se, como homem, lutei em Éfeso com feras, que me aproveita isso? Se os mortos não ressuscitam, comamos e bebamos, que amanhã morreremos. (1Co. 15:32).


Na filosofia, Sócrates, um dos gênios da moralidade, evidencia que para ele a questão da virtude está associada à imortalidade. O mesmo foi condenado injustamente. Antes de ser executado teve oportunidade de fugir da prisão com a ajuda de seus amigos. Porém, recusou a proposta dizendo que não se deve pagar o mal com o mal, ou seja, não se deve agir de modo injusto por que sofreu uma injustiça, visto que ao se fazer isto se age contra as Leis da própria República. E agir contra esta é como ajudar a destruí-la e não se deve destruir aquilo que foi a condição de toda a sua própria existência. Sem falar que agindo de forma injusta não haveria como reivindicar de modo semelhante a justiça, invalidando o próprio discurso moral. No final, Sócrates diz que no Hades, lugar para onde irão as almas, ele teria que prestar contas aos juízes. Por isto diz "não coloques teus filhos, nem tua vida nem nada deste mundo em lugar mais elevado do que é justo, para que, ao chegares ao inferno, tenhas com que defender-te diante dos juízes." (PLATÃO, p. 113).


Noutro diálogo platônico encontramos algo mais decisivo sobre a motivação de Sócrates em viver uma vida virtuosa, a motivação de preferir morrer por uma injustiça do que viver por meio de uma injustiça. Em Fédon, Sócrates diz que o verdadeiro filósofo não deve temer a morte, pelo contrário, deve ansiar por ela, visto que sua vida consiste em lutar contra as paixões do corpo para dedicar-se ao conhecimento da verdade, que só pode ser obtido pela alma, pois o corpo é na verdade um obstáculo a este objetivo. Sócrates então diz a razão de não lamentar morrer: "se eu não cresse encontrar na outra vida deuses bons e sábios e homens melhores que os daqui, seria inconcebível não lamentar morrer. Sabei, no entanto, que espero juntar-me a homens justos e deuses muito bons. Eis por que não me aflijo com a minha morte; morrerei tendo a esperança de que existe alguma coisa depois desta vida e de que, de acordo com a antiga tradição, os bons serão mais bem tratados que os maus." (PLATÃO, p. 123-124).


Logo adiante, Sócrates fala que "a verdadeira virtude é uma purificação de todas as paixões. O comedimento, a justiça, a força e a própria sabedoria são purificações, e é muito claro que aqueles que estabeleceram as iniciações místicas não eram personagens desprezíveis, mas sim grandes gênios que, desde os primórdios, desejaram nos fazer compreender sob esses enigmas que aquele que for ao Hades sem ser iniciado e purificado será jogado na lama, e que aquele que chegar após as expiações, purificado e iniciado, será recebido entre os deuses." (PLATÃO, p. 131). Aqui Sócrates mostra a dependência da prática da virtude com a crença na imortalidade da alma. Logo após ouvir isto Cebes diz: "Sócrates, tudo o que acabas de dizer me parece correto. Só há uma coisa que será inacreditável para os homens: o que disseste a respeito da alma." (PLATÃO, p. 131). Cebes então exige provas da imortalidade da alma o que Sócrates apresenta até o final do diálogo.


Ora, é fato a existência de códigos morais que prescrevem deveres, estabelecem leis, ditam normas, que os membros de uma determinada sociedade estão obrigados a observar. Estes códigos prescrevem o que é e não permitido. Porém, em si, estes códigos são ineficazes sem o poder da coerção ou da punição.


Uma das condições necessárias para o agir moral é a liberdade. Sem esta o agir moral não faz sentido. E o discurso moral não passaria de um amontoado de palavras vazias de significado. A idéia de liberdade do agir moral faz com que as leis morais sejam diferentes das leis físicas do universo. E para isto é importante distinguir dois conceitos, o de necessidade e o de obrigação. Às vezes se confunde o uso dos dois, o que não é bom. As leis físicas naturais não são obedecidas, visto que elas, ordinariamente, regem eventos de modo necessário, ou seja, que não podem ser diferentes do que são. Enquanto, diante das leis morais é possível um curso de ação diferente ao que prescreve a norma. Por isto não se obedece a leis físicas naturais, mas sim leis morais. Para evitar esta confusão os alemães empregam duas palavras, sollen para obrigação e müssen para necessidade. Millan Kundera investiga em Insustentável Leveza do Ser as ações humanas do ponto de vista do müssen e não do sollen, quando pergunta o que é realmente müssen?


A idéia de obrigação é essencial ao agir moral, pois se não se obrigado obedecer a determinada norma porque então criar problemas por causa disto? Ora, não faz sentido, discutir e polemizar algo a que não se tem obrigação de obedecer. Seria mais um capricho irracional do que o um problema filosófico racional. Mas, o que é uma obrigação? Ora, obrigação é definida como o caráter "coercitivo, conferido a uma relação interpessoal por lei jurídica ou por norma moral. Esse caráter é diferente da necessidade, segundo a qual é impossível que a coisa seja ou aconteça de modo diferente: a obrigação não impede que a relação de fato, por ela regida, se configure de modo diferente, mas implica, neste caso, a intervenção de uma sanção. Algumas vezes o caráter obrigatório da relação se expressa com a necessidade moral ou ideal, sem que com isto se pretenda reduzi-lo à necessidade propriamente dita." (ABBAGANANO, p. 725)


Ora, percebe-se que obedecer a uma lei moral não faz sentido sem a idéia de obrigação, mas esta última, também, não faz sentido sem a idéia de sanção, seja ela jurídica seja ela moral. Se não se é, de alguma forma, coibido a obedecer a uma norma moral, porque motivo alguém iria fazer isto? Ainda mais, quando se pode levar algum tipo de vantagem irreversível no não obedecer a uma norma? Porque não mentir quando se pode mentir sem sofrer castigo e ao mesmo tempo recebendo vários benefícios? Alguém iria dizer para estar em paz com a consciência. Bom, mas quantos estão em paz com a consciência vivendo uma vida de injustiça? Alguns têm suas consciências insensíveis de tanto ir contra ela.


Na vida social obedecem-se várias normas morais. Mas por quê? Ora, porque a não obediência pode trazer consequências punitivas. Porém, quando se é possível ir contra as leis morais sem sofrer punição, por qual motivo se deveria obedecer as mesmas? Bom, aqui não se poderia apresentar nenhum motivo necessário para isto. Alguém obedece a uma norma moral ou porque é de seu próprio interesse ou para evitar sanções. Porém, quando não há interesse e não há sanções, e pelo contrário quando é do interesse não obedecer e não se corre o risco de sanções então a pessoa sente-se à vontade para desobedecer.


Uma norma moral sem o poder de punição é uma norma sem muita utilidade. A sociedade tem vários meios de censura e sanção, mas a justiça social é falha, está sujeita ao juízo enganoso e muitos atos podem ser feitos em secreto. Pode-se usar da mentira e engano para encobertar algum erro ou algum mal. Assim, vê-se pessoas que são moralmente corretas recebendo censuras e sanções morais de modo injusto por causa de difamações e calúnias. E vê-se pessoas moralmente incorretas recebendo louvores no lugar dos bons.


Diante desta imperfeição do julgamento moral da sociedade cito as palavras de Qohelet, pensando judeu: "Vi ainda todas as opressões que se fazem debaixo do sol: eis as lágrimas dos que foram oprimidos, sem que ninguém os consolasse; vi a violência na mão dos opressores, sem que ninguém os consolasse" (Ec. 4:1). E então ele diz: "Vi ainda debaixo do sol que no lugar do juízo reinava a maldade, e no lugar da justiça, maldade ainda. Então disse comigo: Deus julgará o justo e o perverso; pois há tempo para todo propósito e para toda obra." (Ec. 3:16-17). Mas, sem Deus e sem imortalidade, como pode alguém dizer que o bom será inevitavelmente recompensado e o mau, punido? Ora, não é possível. O romance de Dostoiévski ilustra algo que acontece constantemente, o inocente pagando pelo mal de outrem, que agiu de modo esperto e oportunista. Justamente porque este último não crendo na existência da imortalidade julga tudo permitido, uma vez que no final, na vida terrena, não será punido por causa das limitações do juízo humano.


Não se pode falar de uma obrigação absoluta quando não há uma recompensa e punição de valor absoluto. Ora, se as punições e recompensas são relativas às condições históricas da ação, então, são estas condições que vão determinar se é ou não aconselhável obedecer uma norma.


O problema é também do discurso ético, visto que a ação é contingente (pode ser ou não ser) e só assume valor de necessidade em relação ao que "deve ser", ou seja, a relação entre o que se deve fazer e o que se fará, não é uma relação lógica mediada por leis de uma razão suficiente. Não se pode raciocinar assim: O homem é um ser que deve valorizar a vida humana; Sócrates é um homem; Logo, Sócrates deve valorizar a vida humana. Disto não segue que Sócrates de fato valoriza a vida humana, pois de fato, ele pode não valorizar. A liberdade de Sócrates pressupõe um elemento de indeterminação lógica em relação ao que sua razão diz que ele deve fazer e o que ele realmente faz. Ele pode não agir de acordo com o que sua razão diz que deve fazer. Seria um salto lógico dizer: Logo, Sócrates valoriza a vida humana. Existe um ponto de descontinuação entre o "dever-ser" moral e o "ser". Este ponto é a liberdade.


Concluindo, concordo com Dostoiévski, de que sem a crença na imortalidade, com sua idéia de recompensa e punição na vida pós-morte, tudo é permitido dentro das conveniências sociais e que ninguém é obrigado a fazer o bem ao próximo quando isto não for conveniente. Pois as leis morais não são como as leis físicas naturais, pois podem ser desobedecidas e, em algumas circunstâncias, sem consequências punitivas. E quando nestas circunstâncias pode-se agir em prol de interesses particulares, muitos dizem para si mesmos: tudo me é permitido, portanto farei aquilo que me for conveniente, mesmo que isto seja imoral e venha a prejudicar a vida de outrem. É claro que estas violações são feitas em segredo, e em muitas das vezes, a pessoa que agiu imoralmente, em lugar de ser punida é ainda recompensada.


Constantin Constantius!


BIBLIOGRAFIA


ABBAGNAMO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

ARISTÓTELES. Arte Retórica e Arte Poética. Rio de Janeiro: Ediouro, s/data.

BÍBLIA SAGRADA. Versão ARA. São Paulo: SBB, 1999.

DOSTOIÉVSKI. Os Irmãos Karamazov. São Paulo: Ed. Martin Claret, 2005.

LALANDE, André. Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

MONDIN, B. Introdução à Filosofia. São Paulo: Ed. Paulus, 1980.

PLATÃO, Col. Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 2000.

PUGLIESI, M. Mitologia Grego-Romana. São Paulo: Ed. Madras, 2003.

VOLTAIRE. Dicionário Filosófico. São Paulo: Martin Claret, 2003.

16 de abril de 2007

Aleph: Símbolo do Ser, em seu aspecto Essencial e Existencial

O símbolo é um elemento essencial para expressar o pensamento mítico-religioso, que é o pensamento existencial mediado por meio da fé. No entanto, não deixa de ter valor significativo para expressar, também, o pensamento lógico-racional-filosófico. É instrumento valioso para expressar, de modo simples e sintético, um determinado conceito complexo e de difícil compreensão. E pode-se dizer que encontrar um símbolo adequado à um conceito, constitui-se uma verdadeira arte. Na busca por um símbolo que expresse bem meu pensamento filosófico, encontrei um perfeito, a letra hebraica Aleph (alef). Mas, antes de explicar o significado simbólico desta letra com meu pensamento, é mister contextualizar historicamente o significado místico-religioso deste símbolo dentro da tradição judaica-cristã.

O alfabeto hebraico não é apenas um conjunto de letras de um sistema lingüístico, é também, uma fonte de ricos significados simbólicos. Este alfabeto contém somente consoantes. Os sinais vocálicos não são representados, embora os massoretas tenham criado um sistema de pontuação para sinalizar a vocalização das palavras, chamados de sinais massoréticos. O hebraico foi o idioma em que foi escrito o Velho Testamento Cristão, que corresponde à Torah do Judaísmo. É composto por 22 letras e cada uma delas têm vários significados simbólicos de natureza mítica-religiosa na tradição mística judaico-cristã. Quem mais explorou o significado destas letras foi a Cabala, seita esotérica, que existe tanto em versão judaica como cristã.

O alfabeto hebraico pertence a uma língua muito antiga, e por isto suas letras foram primordialmente grafadas por figuras gráficas associadas com objetos concretos. Com o passar do tempo as letras foram tomando formas próprias e assumindo um significado mais abstrato e particularmente fonético, em suas versões modernas.

Pois bem, Aleph é a primeira letra do alfabeto. Esta letra não tem som, e é usada para sinalizar a presença de uma vocalização sem consoante, visto que não há letras para os sons vocálicos, no hebraico. Primordialmente aleph era grafada com o desenho da cabeça de um touro, significando "força", "poder" ou "liderança". Muitas palavras hebraicas podem ser bem compreendidas semanticamente à luz do estudo pictográfico. Um exemplo, de como aleph tem um significado concreto associado à suas primeiras formas, é a famosa palavra "Aba" que significa "Pai", que em hebraico é formada pelas letras "aleph" e "bêt" (transliterada pela letra "b"). Esta última era grafada de modo pictográfico como uma figura de uma tenda, ou seja, de uma casa. O significado então de "Aba" à luz da pictografia é "cabeça da casa" ou "chefe do lar". A grafia desta letra passou por várias evoluções. As grafias, da primeira letra do alfabeto grego (alfa) e do latino e do numeral um (1), têm suas origens em uma das formas de Aleph.



Porém, além do sentido pictográfico do alfabeto hebraico, existe o significado mítico-religioso, associado à forma moderna do alfabeto. Neste último sentido, Aleph recebeu significados ricos de conteúdo religioso. E neste sentido, para entender o significado da letra aleph, primeiramente é necessário entender a constituição e forma moderna em que a letra é grafada. Aleph é uma das três letras mães, formada por pela combinação de duas outras letras simples do alfabeto. É, portanto, formado por um vav em diagonal (sexta letra do alfabeto, cujo sinal pictográfico é um tipo de gancho ou "clipe" para ligar as coisas) e por dois yod (décima letra do alfabeto - cujo sinal pictográfico é um braço com uma mão), um superior e outro inferior ao vav. Na gramática hebraica o vav funciona, também, como conjunção de inclusão, a conjunção "e". Na literatura cabalística o vav conceitua "o poder de conectar e correlacionar todos os elementos dentro da Criação". Já o yod é uma pequena letra, presente de certa forma na grafia de todas as outras letras do hebraico moderno, e por isto é considerada a base de todas elas.

Qual o significado do arranjo destas letras? Bom com o yod superior significa-se o aspecto escondido de Javé e com o yod inferior, a sua revelação à humanidade. O traço diagonal que é um vav (letra que é uma conjunção em hebraico) funciona como ligação entre as duas realidades: a realidade divina oculta e a realidade divina revelada ao homem. Embora, o segmento religioso que mais explora estes significados são as seitas esotéricas da Cabala, pode-se dizer que do ponto de vista Teísta Monoteísta Judaico-Cristão, o vav diagonal seria a ligação entre a realidade transcendental de Deus e a realidade imanente de Deus.



A guematria, estudo dos significados numéricos das letras do alfabeto hebraico, atribui ao Aleph o número um, e portanto, esta letra indica a Singularidade Divina, idéia monoteísta de um único Deus. Este significado é reforçado, pois a soma dos valores numéricos das letras que compõem Aleph é 26, pois um yod vale dez e um vav, seis, como são dois yods, então, a soma total é 26, o mesmo valor numérico do tetragrama sagrado judeu, formado pelas letras yod, hey, vav, hey, que transliterado fica YHVH (cf. Êxodo 3:14-15), donde deriva o nome Javé, que em grego é traduzido por Theos, Deus. A guematria, então indica a ligação entre a letra Aleph e o Deus em Si Mesmo.



Aleph, não tem som, é uma letra silenciosa. Por isto existe uma fábula que explica porque Aleph não foi escolhida a primeira letra da Torah. Na estória, todas as letras se apresentam, diante de Deus, para dar razões do porque deveriam ser a primeira letra, exceto a letra Aleph. Quando o Senhor perguntou o porque disto, Aleph explicou a razão de ter ficado em silêncio: ela não tinha nada a dizer. Mas o Senhor honrou a humildade de Aleph e designou-a como a primeira de todas as letras, sendo a primeira do alfabeto. E, também, a honrou como a letra da primeira palavra dos Dez Mandamentos.

O Rabi Dov Ber explica as primeiras palavras da Torah: "Bereschit Bara Elohim Et" (No princípio Deus Criou "et") conforme Gênesis 1:1. Gramaticalmente, a palavra "et" é intraduzível e é usada para indicar que a próxima palavra é um objeto direto definido, que portanto, no texto liga a ação criadora de Deus tanto dos céus como da terra. Mas, Dov Ber aponta para um significado simbólico no relato da criação, explicando o porque desta palavra "et", que é formada por um aleph e um tav, que são respectivamente a primeira e a última letra do alfabeto hebraico, e por esta razão é sinônimo de todo o alfabeto. Então, o Rabino argumenta que no princípio Deus criou o Alfabeto, antes dos céus e da terra. As letras são consideradas como os blocos de construção primordiais de toda a criação. Outro rabino, Shneur Zalman, afirmou que se as letras deixarem de existir por um instante, toda a criação tornaria absolutamente insignificante. Percebe-se que para os judeus as palavras tinham um significado muito importante. O texto cristão de João 1 relaciona a criação com a Palavra, que é Cristo, o Verbo de Deus.

Aleph é, também, interpretada como uma figura messiânica, pois é composta tanto de uma realidade superior celestial, como de uma realidade inferior terrena, ligadas pela humildade de um corpo. Aleph é a figura da Unidade do Deus-Homem que é o Messias ou Cristo. Do ponto de vista messiânico, Aleph representa Yeshua, o Messias, intercessor da humanidade. Os dois Yods representam os braços abertos estendidos alcançando tanto a humanidade quanto a Deus.

As seitas esotéricas do tipo cabalístico atribuem vários outros significados ao Aleph e demais letras do alfabeto hebraico. Uma curiosidade é que esta letra, Aleph, foi reinterpretada por Georg Cantor, um matemático famoso, criador da teoria dos números transfinitos, que influenciado por todo o mistério místico religioso judaico desta letra, atribui um novo significado, usando a mesma para representar o número que corresponde à soma de todos os números inteiros positivos, que por sinal é uma grandeza infinita.

Por tudo isto, julguei Aleph um símbolo ideal para expressar de modo sintético meu pensamento ontológico-filosófico. Minha ontologia considera o Ser, como Uno e Eterno. Ser de modo geral representa a Realidade Total. Faço distinção de duas esferas no Ser: a Essência, esfera da idealidade imaterial atemporal (eterna) e a Existência, esfera da realidade material temporal. O todo real é uma combinação entre idealidade e realidade, ou seja, essência e existência. Porém, a síntese destas duas esferas é feita no Eu Penso Transcendental que por meio da sensibilidade apreende a existência e por meio do entendimento apreende a essência. Como o Ser é Eterno, pois é impossível que o Ser Absoluto tivesse sua origem no Não-Ser absoluto, então todos os entes temporais, existem essencialmente de modo eterno no Ser, como possibilidades ideais.



Pretendo esclarecer com mais clareza o significado destes termos: Ser, Essência, Existência e Eu Penso. Utilizo-me como base conceitual a terminologia de Descartes, John Lock, Kant e Sartre conforme o uso que faz destes termos em suas obras. Porém, muito importante, também é o pensamento de Kierkegaard que distingue a realidade da idealidade e a relação destas duas esferas do Ser na consciência humana. Para Kierkegaard, o homem é "síntese de infinito e de finito, de temporal e de eterno, de liberdade e de necessidade." O homem é uma síntese e portanto é a relação entre dois termos. Esquema este que pode ser, perfeitamente, adaptado dentro da simbologia de Aleph.

Concluindo, Aleph é o símbolo que expressa o meu atual pensamento ontológico-filosófico. Porém, é apenas um símbolo, nada mais do que isto. Enfim, não tem o poder mágico atribuído pelas seitas esotéricas de cunho cabalístico. No mais, com o tempo irei aperfeiçoando minha análise e explicitando melhor minhas idéias.

Constantin Constantius!

2 de março de 2007

Que Sou que Ninguém Mais É?

Geralmente se pergunta "o que sou", que é uma pergunta pela essência (definição e determinação). Mas, se minha existência se determina no aqui e agora e se estes elementos são dinâmicos (indeterminados e indefinidos) como responder a esta pergunta de modo que a resposta seja uma proposição individualmente válida?


Reflitamos um pouco: O que sou? Respondo: sou um ser! Ora, mas tudo ao meu redor também é ser. Então, esta resposta não fará muito sentido. Porque o que digo que sou, outros também são. Logo, não sou apenas o ser. E portanto, a resposta não está completa. Vale para todos os outros que não sou. Aí, então, respondo: sou um animal! Mas, alguém brada: Ora! Mas, animal, também, eu sou! E, então, eu respondo sou homem! Um terceiro levanta sua voz: mas homem, também, sou! Então, paro e penso, preciso de uma resposta cuja extensão aplica-se somente a mim. Diante disto, eis a razão da pergunta: o que sou que ninguém mais é?


Sou um ser, sou um ser vivo, sou um animal, sou um homem e assim por diante. Mas, o que sou de fato na existência individual e concreta?! Percebo que independentemente do que sou, sou no aqui e agora! Mas, meu aqui e meu agora nunca são os mesmos. Digamos que sou uma estrutura única que consiste no agrupamento de átomos, que formam moléculas, que formam células, que formam órgãos, que formam sistemas e por fim formam meu organismo aqui e agora. Apesar de toda esta complexidade, são estruturas definidas de agrupamentos de átomos. Alguém, ainda, indagaria sobre as partículas subatômicas! Ok! Então, sou uma estrutura de átomos que são definidos e identificados conforme seu próprio número, de acordo com a disposição de prótons, elétrons e nêutrons. No entanto, todos são formados da mesma matéria. Sou uma síntese de matéria (que existe concretamente) que tem uma estrutura (apreendida abstratamente). Ora, mas isto ainda não é uma definição do que eu sou que ninguém mais é.


Sinto-me tentado a dizer que sou o meu nome, ou que sou eu mesmo. Como fugir do tautologismo desta segunda opção? Por isto a descarto. Agora, sobre o nome. Vejamos que por trás do nome esconde-se um grande segredo. A não identidade da síntese material e estrutural consigo mesma. O meu nome coincide com a síntese material e estrutural aqui e agora. Descubro assim, que o meu aqui e agora são dois elementos que pertencem somente a mim e a mais ninguém. Dois entes não ocupam o mesmo espaço ao mesmo tempo. Portanto, o meu aqui e agora é aquilo que expressa o que sou que ninguém mais é.


Ora, a solução acima complica mais do que simplifica. Porque fico sabendo que o que sou, que ninguém mais é, é totalmente dinâmico. Pois, o aqui e o agora estão em constante mudança. Vejamos as razões: 1) Não ocupo sempre o mesmo lugar no espaço; 2) Meu agora nunca é fixo, pois é a expressão do meu fluir no durar e passar da minha estrutura e da minha matéria.


Então, sou forçado a dizer que "aquilo que sou e que ninguém mais é" não é sempre a mesma coisa aqui e agora. O que sou que ninguém mais é, é o devir da síntese de matéria e estrutura aqui e agora. Deste modo o que sou nunca é a mesma coisa. E portanto, sou aqui e agora o que não sou de modo essencial. Sou determinado pelo não ser do aqui e agora. Pois, o aqui e o agora não tem uma essência material. Não sou nem isto e nem aquilo de modo fixo, sou um fluir aqui e agora de matéria e estrutura, nunca sou algo substancial, sou processo, sou mudança. Tenho que dizer que não há como responder de modo essencial à pergunta pelo que sou o que sou e que ninguém mais é. Se digo ser o que sou aqui e agora, amanhã, já não sou mais o mesmo, pois o agora mudará. Se levanto de minha cadeira, deixo de ser, pois o aqui também mudou. Portanto, sou individualmente nada de essencial ou melhor sou o sendo não-sendo contínuo do meu aqui e agora particular.


Concluindo, toda definição do "que eu sou que ninguém mais é" é uma definição idealista e não reflete a realidade do que sou como ser existente. Por isto criamos os nomes gerais, os gêneros, para que possamos ter uma identidade fixa em alguma coisa. Porém, nomes gerais e gêneros são indiferentes à nossa existência, pois considera acidental o que é essencial para o que sou e que ninguém mais é. Para que possamos falar de nosso ser individual, precisamos utilizar portanto de conceitos gerais: Ser, Animal e Homem. Às vezes para preservar uma qualidade nossa, utilizamos nomes tais como: Ateu, Teísta, Deísta, Agnóstico, Religioso, Crente, Cético, Antinomista, Filósofo, Artista, Poeta, Músico, Padre, Empresário, Trabalhador, Patrão, etc. Ora, mas estes conceitos não refletem nossa existência única e individual. São idealidades que distorcem nossa realidade única e singular. Na maioria das vezes o geral intromete no individual tentando moldar o ser de modo essencialista. Quando isto acontece, o dever-ser quer determinar o ser.

Constantin Constantius!

Goiânia