2 de março de 2007

Que Sou que Ninguém Mais É?

Geralmente se pergunta "o que sou", que é uma pergunta pela essência (definição e determinação). Mas, se minha existência se determina no aqui e agora e se estes elementos são dinâmicos (indeterminados e indefinidos) como responder a esta pergunta de modo que a resposta seja uma proposição individualmente válida?


Reflitamos um pouco: O que sou? Respondo: sou um ser! Ora, mas tudo ao meu redor também é ser. Então, esta resposta não fará muito sentido. Porque o que digo que sou, outros também são. Logo, não sou apenas o ser. E portanto, a resposta não está completa. Vale para todos os outros que não sou. Aí, então, respondo: sou um animal! Mas, alguém brada: Ora! Mas, animal, também, eu sou! E, então, eu respondo sou homem! Um terceiro levanta sua voz: mas homem, também, sou! Então, paro e penso, preciso de uma resposta cuja extensão aplica-se somente a mim. Diante disto, eis a razão da pergunta: o que sou que ninguém mais é?


Sou um ser, sou um ser vivo, sou um animal, sou um homem e assim por diante. Mas, o que sou de fato na existência individual e concreta?! Percebo que independentemente do que sou, sou no aqui e agora! Mas, meu aqui e meu agora nunca são os mesmos. Digamos que sou uma estrutura única que consiste no agrupamento de átomos, que formam moléculas, que formam células, que formam órgãos, que formam sistemas e por fim formam meu organismo aqui e agora. Apesar de toda esta complexidade, são estruturas definidas de agrupamentos de átomos. Alguém, ainda, indagaria sobre as partículas subatômicas! Ok! Então, sou uma estrutura de átomos que são definidos e identificados conforme seu próprio número, de acordo com a disposição de prótons, elétrons e nêutrons. No entanto, todos são formados da mesma matéria. Sou uma síntese de matéria (que existe concretamente) que tem uma estrutura (apreendida abstratamente). Ora, mas isto ainda não é uma definição do que eu sou que ninguém mais é.


Sinto-me tentado a dizer que sou o meu nome, ou que sou eu mesmo. Como fugir do tautologismo desta segunda opção? Por isto a descarto. Agora, sobre o nome. Vejamos que por trás do nome esconde-se um grande segredo. A não identidade da síntese material e estrutural consigo mesma. O meu nome coincide com a síntese material e estrutural aqui e agora. Descubro assim, que o meu aqui e agora são dois elementos que pertencem somente a mim e a mais ninguém. Dois entes não ocupam o mesmo espaço ao mesmo tempo. Portanto, o meu aqui e agora é aquilo que expressa o que sou que ninguém mais é.


Ora, a solução acima complica mais do que simplifica. Porque fico sabendo que o que sou, que ninguém mais é, é totalmente dinâmico. Pois, o aqui e o agora estão em constante mudança. Vejamos as razões: 1) Não ocupo sempre o mesmo lugar no espaço; 2) Meu agora nunca é fixo, pois é a expressão do meu fluir no durar e passar da minha estrutura e da minha matéria.


Então, sou forçado a dizer que "aquilo que sou e que ninguém mais é" não é sempre a mesma coisa aqui e agora. O que sou que ninguém mais é, é o devir da síntese de matéria e estrutura aqui e agora. Deste modo o que sou nunca é a mesma coisa. E portanto, sou aqui e agora o que não sou de modo essencial. Sou determinado pelo não ser do aqui e agora. Pois, o aqui e o agora não tem uma essência material. Não sou nem isto e nem aquilo de modo fixo, sou um fluir aqui e agora de matéria e estrutura, nunca sou algo substancial, sou processo, sou mudança. Tenho que dizer que não há como responder de modo essencial à pergunta pelo que sou o que sou e que ninguém mais é. Se digo ser o que sou aqui e agora, amanhã, já não sou mais o mesmo, pois o agora mudará. Se levanto de minha cadeira, deixo de ser, pois o aqui também mudou. Portanto, sou individualmente nada de essencial ou melhor sou o sendo não-sendo contínuo do meu aqui e agora particular.


Concluindo, toda definição do "que eu sou que ninguém mais é" é uma definição idealista e não reflete a realidade do que sou como ser existente. Por isto criamos os nomes gerais, os gêneros, para que possamos ter uma identidade fixa em alguma coisa. Porém, nomes gerais e gêneros são indiferentes à nossa existência, pois considera acidental o que é essencial para o que sou e que ninguém mais é. Para que possamos falar de nosso ser individual, precisamos utilizar portanto de conceitos gerais: Ser, Animal e Homem. Às vezes para preservar uma qualidade nossa, utilizamos nomes tais como: Ateu, Teísta, Deísta, Agnóstico, Religioso, Crente, Cético, Antinomista, Filósofo, Artista, Poeta, Músico, Padre, Empresário, Trabalhador, Patrão, etc. Ora, mas estes conceitos não refletem nossa existência única e individual. São idealidades que distorcem nossa realidade única e singular. Na maioria das vezes o geral intromete no individual tentando moldar o ser de modo essencialista. Quando isto acontece, o dever-ser quer determinar o ser.

Constantin Constantius!

4 comentários:

Anônimo disse...

A abordagem que vc usou me fez acompanhar seu raciocínio passo a passo de uma forma muito fácil, mesmo com toda a complexidade do q escreveu, por isso gostei muito...
Sobre essa visão de dinamismo referente à inconstância do que vc é sem que ninguém mais seja, eu sempre havia associado apenas à outros fatores como circunstâncias existenciais por ex, nunca ao "aqui e agora", portanto achei uma conclusão muito interessante...
Ao mesmo tempo, me faz pensar no seguinte, se tudo aquilo que se é individualmente é algo dinâmico, devido ao momento presente, e, absolutamente todos os seres possuem esse mesmo dinamismo, de um ponto de vista bem realista, não parece haver possibilidade alguma ao meu ver de afirmarmos peculiaridades verdadeiras entre nós, então não há individualidade alguma pois, se a individualidade é coletiva, logo, contraria a si mesma!
Sendo assim, talvez aquilo que vc pensa que é no momento, ao qual tentamos atribuir identidade fixa e etc, pode sim ser único mas, não sozinho....afinal, quebrando o conceito de individualidade, automaticamente quebramos o de coletividade também....pq sem a individualidade, oq resta é algo totalmente único, peculiar, que nada nem ninguém mais pode ser além de vc, além de nós rs

Muito bom texto Constantin, alias, bons textos!

é isso :)
bj

Unknown disse...

Parabéns pelo blog. Fantástico! Lendo o seu excelente artigo, surgiu um questionamento: partindo do pressuposto que a existência precede a essência, achei muito consistente sua argumentação. Agora, se mudássemos o pressuposto para existência inclui essência, coloco a mesma pergunta: o que sou que ninguém mais é?

Anônimo disse...

Agora sim, entendo o significando da frase que está no seu orkut, justamente que fala o que você é, Sou um devir de ser e não ser. Sou nada de determinado e essencial.

Muito interessante o seu texto, Constantin. Parabéns. Mas, talvez por você partir do existencialismo, eu não concordo com algumas coisasa, apesar de não está certa com relação a isso.

Beijos e abraços.

Anônimo disse...

Não tenho a pretensão de tecer aqui comentários envoltos em grandes saberes como meus colegas o fizeram, afinal conheÇO pouco, quase nada de filosofia, sou apenas um alguém que gosta de discutir e escrever coisas da vida, tudo de uma forma bem empírica e despretensiosa, porém este texto de Constantin me fez mergulhar no mundo das idéias e confesso que fiquei curiosa para saber mais sobre esse mundo de perguntas que não se calam e respostas que não se cessam......
Grande Constantin......

Regiane Nascimento Santos


Goiânia