6 de outubro de 2008

Horas de Grande Tédio


Uma das grandes vantagens de ser um nada de ser
determinado, é poder representar o ser de qualquer coisa... Alienus Amens tinha consciência disto e apesar das condições limitantes impostas às representações de ser, Alienus sabia que nenhuma destas essencializações eram necessárias.

Alienus geralmente representava o papel de alguém que se entediava... assumindo como seus os sentimentos de aborrecimentos e fastios, das longas horas que não passavam, inocupadas d' algo que à alma animava. Outras vezes, apenas imaginava o tédio... observando certas pessoas em suas atividades cotidianas... repititivas... enjoativas ... que aos seus olhos objetivos não faziam muito sentido.

Uma vez observou um vendedor de caldo de cana, que ficava o dia inteiro em sua barraca... sentado ali, entre multidão de gente que ali passava, o dia inteiro, ora triturando a cana e servindo a clientela, ora quieto no silêncio e na solidão da falta de freguesia. E isto dia após dia, mês após mês, ano após ano... Não, isto não era a realidade do homem, que não a sabemos, era sim a idealidade de Alienus, que se imaginou no lugar daquele homem, sozinho ali, nas horas de solidão. Imaginando, sentiu um enorme tédio por antecipação. E esta angústia brotada no solo da idealidade, levou Alienus a escrever mais um poema... um soneto ao Tédio:

Horas de Grande Tédio

Vagarosamente corre o ponteiro a cada hora
Eternamente se temporalizando neste agora
Verbos enfadonhos d'um corpo, d'uma mente
Aborrecimento... entediante... Impertinente

Eis o agora de um momento muito entediante
Importuna incomodamente até o comediante
Um agora, teimoso em não se tornar um antes
Preenchido de cansativos verbos enfastiantes

Fatigados, demoradamente e insistentemente
Advérbios de modos que interminantemente
Exprimem modos de ser mui enfadonhamente

Constantemente se diz: eternamente nada dura
Porém, existe o existente que no tempo perdura
Como o tédio, que somente distração traz a cura.

Alienus então mais uma vez estranhou o resultado... sentiu-se cansado e verdadeiramente com tédio... Ele não entendia como que um sentimento estimulado poderia produzir os mesmos efeitos que os sentimentos espontâneos. Eis aí, Alienus, não sendo em essência um ser entediado, estava no entanto, vivendo um momento assim, pois carregava de modo indeterminado a semente do tédio. Mas, como tudo na existência, este estado de ânimo não duraria para sempre, pois ele de fato não era em essência o ser entediado. Pouco tempo, de um longo tempo, depois, voltou à se distrair com a vida.

Johannes Alienus Amens

2 comentários:

Rafaela Gomes Figueiredo disse...

Ócio produtivo é o que há! =)
Mas esse Alienus não tem relação de autonomia, né? rs Onde o autor deposita um tanto biográfico..
Se sim, tb, q bom! rs

Beijos! Parabéns!
Mais um lindo soneto.

Constantin Constantius disse...

Olá Rafaela!

Muito obrigado pelas tuas palavras...

Pois é, o Alienus carrega um pouco do autor, rss! Apesar que pretendo utilizá-lo de modo mais autônomo, rs!

Beijos!


Goiânia