14 de dezembro de 2006

O Salto de Fé nas Ciências

De modo geral, conforme a lógica, o cientista é alguém que procura descobrir verdades gerais, de que os fatos particulares são exemplos e para as quais constituem provas. Não se limita somente a querer descrever fatos isolados e apreendidos pelo entendimento, que neste caso são os juízos sintéticos a posteriori. Sua intenção é explicar por meio de uma teoria os fatos naturais. Uma explicação é "um grupo de enunciados ou um relato de que a coisa a ser explicada pode ser logicamente inferida, e cuja postulação diminui ou elimina o seu caráter problemático ou desconcertante." (COPI, I. Introdução à Lógica, p. 380).


É comum distinguir-se as explicações científicas das não-científicas. Porém, do ponto de vista puramente racional "poucas proposições da ciência são diretamente verificáveis como verdadeiras. De fato, nenhuma das mais importantes o é. Na sua maior parte, referem-se a entidades inobserváveis, como moléculas, átomos, eléctrons, prótons e outras semelhantes. Portanto, o requisito de verdade não é diretamente aplicável à maioria das explicações científicas."


A diferença entre explicações científicas e não-científicas (mitos, fantasias, crenças teológicas) consistem em dois pontos: relevância e verificação indireta. Pelo primeiro critério: é científica toda explicação que está relacionada diretamente com o fato que deseja explicar. No entanto, explicações não-científicas também são relevantes na maioria das vezes.


Pelo, segundo critério, é científica toda explicação em que se pode deduzir da proposição teórica outras proposições que podem ser verificadas empiricamente para provar indiretamente uma explicação teórica. Porém, pelas leis fundamentais da lógica formal (princípio da identidade, princípio da não-contradição, princípio do terceiro excluído e princípio da razão suficiente) a conclusão de um raciocínio que usa a verificação indireta não se funda num raciocínio válido, pois a mesma não infere-se imediatamente das premissas. É necessário a pressuposição de outras premissas ocultas não verificáveis.


Portanto, diante destas diferenças é importante notar que do ponto de vista puramente racional uma teoria científica não difere muito de uma teoria não-científica quando o critério posto é o da verdade. A ciência não afirma a veracidade de suas teorias, pelo contrário se porta abertamente para novas teorias mais relevantes e mais abrangentes.


É neste ponto, que quero chegar. Uma explicação científica também faz uso de um salto de fé. Dependendo da abrangência de suas explicações este salto de fé aproxima-se muito dos que são dados pelas explicações não-científicas. Exemplos destes são as teorias sobre eventos passados bem remotos como a origem do universo e origem da vida na terra. Por mais que estas teorias sejam relevantes e tenham algumas provas indiretas a seu favor, as probabilidades de estarem erradas são infinitamente maiores do que as probabilidades de estarem corretas. E nisto então não se distingue muito de crenças e mitos, do ponto de vista qualitativo.


Kierkegaard foi um pensador muito relevante, pois refletiu sobre o que é interessante para a existência. Uma das categorias mais importantes de seu pensamento é a fé. Para ele, fé (incerteza objetiva) opõe-se diretamente à certeza objetiva. Quanto mais absurdo é o conteúdo da fé mais forte e apaixonante ela é. Quanto mais incerta melhor. Quanto mais certa objetivamente menos valor ela tem. O cristão explica o mundo pela fé. E isto é normal, visto que fala sobre assuntos dos quais a ciência não tem muita vantagem também. Analisando objetivamente teorias tais como o Big Bang e da Evolução, pelos critérios da relevância e da verificação empírica indireta, as mesmas não exigem menos da fé do que as teorias do Criacionismo e Design Inteligente. É um ato ingênuo e temeroso querer explicar a existência cientificamente de modo objetivo, pois a existência em si é subjetiva. Neste caso a verdade é subjetividade.

2 comentários:

Anônimo disse...

bom comeco

Anônimo disse...

Amigo, você realmente pensa que é preciso dar um salto de fé para reconhecer a obviedade factual de que pertencemos a uma história natural, que somos parentes dos símios?
Acha mesmo que uma teoria tão bem estruturada como a teoria da evolução, respaldada por estudos exaustivos, evidências (apesar de algumas lacunas) pode ser comparada ao "designe inteligente", que qualquer pessoa de bom senso sabe que não passa de um mito?


Goiânia