Sou um claustrofóbico. Sim, tenho pavor de ficar preso em lugares fechados. Lembro quando criança, numa brincadeira junto com meus primos, quando minha tia trancou-me dentro de uma geladeira velha. Era uma brincadeira, mas para mim foi apavorante. A sensação de pânico invade o ser. Toda racionalidade dissipa-se do pensamento. A imaginação prevalece. A angústia faz-me sofrer antecipadamente pela falta de ar. O ser quer literalmente explodir. Experimentar a claustrofobia é como estar no Tártaro, fazendo companhia a Tântalo, Ixíon e Sísifo. Pois é um sofrer sem morrer.
Mas, posso dizer que experimento outro tipo de claustrofobia. A claustrofobia da subjetividade. Só a sinto quando apercebo-me de que vivo numa prisão, de todas as prisões a mais hermética: a prisão da subjetividade. A subjetividade é uma prisão hermeticamente hermética. Não há qualquer possibilidade de passagem de ar. Não há portas. Não há janelas. Não há orifícios. Suas paredes são extremamente e puramente e perfeitamente sólidas. Imaginar isto causa claustrofobia existencial.
Todo homem nasce dentro dela e dela jamais pode sair. Ela é transparente, feita de vidros. Graças a isto pode-se ter uma visão objetiva. Isto é paradoxal. Mas, a transparência da subjetividade permite ver o que há do lado de fora. Não do lado de fora de si mesmo, mas o exterior do outro que aparece dentro da própria subjetividade: o fora dentro de si. O subjetivo compreende e abarca o objetivo. O homem vê aquilo que está além da prisão, porém raras vezes apercebe-se que está preso dentro de si mesmo.
A objetividade é uma ilusão. Tudo quanto está ao meu redor é visto pelas vidraças da subjetividade. Experimento o mundo e as pessoas, ora pela percepção, ora pela imaginação e ora pela concepção. Mas, sempre pela subjetividade, tudo passa pelo crivo do Cogito, do Eu Penso. As paredes de vidro indicam apenas a transcendência do mundo.
Assisti um filme de Todd Field, Little Children, onde ele consegue captar bem o sentido destas prisões. E nada melhor para perceber o quanto o homem é preso em sua própria subjetividade do que observá-lo de "fora", com uma visão "objetiva", colocando-se como um personagem onipresente observando o passado, presente e futuro do outro. E vendo o quanto a imaginação e a fantasia do homem determina-lhe o seu comportamento. Na subjetividade o homem imagina uma realidade vendo então caracteres ilusórios naquilo e naqueles com quem se relaciona. É, é mais fácil ver a ilusão alheia do que a própria. Mas, não seria a idéia de observador uma mera ilusão?
Então, quando apercebo-me de minha prisão subjetiva, já não sei mais o que é real e o que é imaginação. E deter a atenção muito tempo nisto, causa-me claustrofobia existencial. Estou preso em minha própria subjetividade. Isto sufoca-me. Como distinguir a realidade da fantasia ... Platão usou a alegoria da caverna, dela se pode sair. Mas da prisão hermética, sem portas e janelas, quem poderá sair?
Johannes Climacus!
3 comentários:
Uau!
Que bom poder ler isso! =)
"E, no silêncio de meu grito,
Hei de colher o Ser ígneo
Plantado sob a alma-terra
Deste mero corpo vítreo..."
Vale o trecho?
Abraço!
Olá Rafaela!
Fico mesmo contente por ter gostado de ler. E amei o verso que deixastes, penso que vale sim.
Este verso fez vir à minha mente a imagem de um ser transparente cujo interior é iluminado por dentro através de uma chama. Legal esta capacidade de captar imagens pela poesia.
Beijos!
Sim, bem essa idéia mesmo!
=)
Obrigadíssima!
Beijos
Postar um comentário